O porquê deste projeto

O conceito de atenção plena ou atenção consciente (mindfulness) experimenta actualmente uma enorme popularidade, com especial destaque para os Estados Unidos da América. Cientistas e académicos têm demonstrado o seu crescente interesse por este conceito e proliferam os estudos, teses de doutoramento e publicações sobre as mais diversas aplicações que o mesmo pode assumir, desde a área da saúde até, mais recentemente, ao contexto educativo. Todos os estudos na área do bem-estar documentam que as nossas vidas aceleradas estão directamente relacionadas com o incremento de casos de depressão e perda de auto-controlo. Mais recentemente, os neurocientistas têm demonstrado que o nosso cérebro é moldável, tanto física como mentalmente, e que temos a capacidade de alterar os nossos padrões de pensamento e a consequente reacção ao estarmos conscientes dos mesmos. Esta plasticidade cerebral é maior durante o período de crescimento das crianças. Ajudá-las nesta fase a obter um bem-estar social, emocional, físico e intelectual pode ter um maior impacto no seu bem-estar e saúde mental. Parece, portanto, consensual que a sociedade precisa ser mais consciente nos tempos que correm.

Paradoxalmente, apesar do reconhecimento que esta é uma área fundamental a ser desenvolvida em toda a sociedade, apenas se têm dado pequenos passos na sua aplicação em contexto educativo. Hoje em dia as salas de aula tendem a ser um espelho daquilo que se vai passando na sociedade, tanto de bom como de mau. Alunos e professores carregam consigo para a escola as experiências e vivências do seu quotidiano, tornando-se muito difícil que estas não condicionem o que se vai passando dentro da sala de aula.

Aliado a estas condições está o stress enfrentado tanto por alunos, como por professores, assim como por pais, que se debatem diariamente com tensões e preocupações. É claro que todos estes factores têm uma influência predominante, não só na vida escolar como fora dos muros da escola.

Nas salas de aula os alunos estão mais desatentos, desconcentrados, desmotivados, sem gosto pela aprendizagem, o que leva também a que os professores se sintam também eles próprios desmotivados relativamente à profissão e tensos nesta relação com os alunos. Os problemas comportamentais aumentam e consequentemente a violência, seja ela física ou verbal, aumenta em proporção. A qualidade das aprendizagens decai, originando fracos resultados académicos e proporcionando um sentimento de ansiedade e de mal-estar geral.

O Projecto Educativo do Agrupamento definiu como um dos temas prioritários a Educação para os Valores, como forma de promoção do sucesso escolar e educativo e como promoção da qualidade de trabalho na escola. Os princípios estabelecidos para este tema incidem sobre: o fomento nos alunos de atitudes de valor que lhes permitam tornar-se cidadãos conscientes, solidários e intervenientes; o fomento do respeito pela pluralidade de culturas, para uma progressiva consciência como membro da sociedade; a promoção do desenvolvimento pessoal e social dos alunos com base em experiências de vida democrática, numa perspectiva de educação para a cidadania; o desenvolvimento de atitudes de respeito por si e pelos outros e a promoção do respeito e da inclusão de alunos com Necessidades Educativas Especiais de Carácter Permanente.

Por sua vez, o Projecto Curricular de Escola, tendo como ponto de partida o Projecto Educativo, tem como finalidade alcançar uma escola para todos que constitua um lugar de aprendizagens significativas, de construção de valores e que facilite a integração social dos alunos. O tema escolhido pela EB de Várzea para o seu PCE, “Na Terra Há Lugar Para Todos”, está relacionado com o desenvolvimento de competências necessárias à vida na sociedade contemporânea, onde o aprender a viver juntos e a ser bons cidadãos são as bases de toda a aprendizagem.

Este Projecto Curricular de Turma, na vertente SER Criança, surge então na sequência da constatação de todos estes factos e do questionamento acerca de qual o caminho a percorrer para começar a inverter esta tendência. Após uma pesquisa sustentada e de, no ano lectivo transacto, ter sido abordado superficialmente este conceito do desenvolvimento da atenção consciente através da implementação de algumas práticas, o professor titular de turma decidiu que este ano esta seria uma temática prioritária. Ao mesmo tempo, o docente manifestou a uma encarregada de educação, formada na área da Psicologia, a vontade de alargar o espectro deste projecto, de modo a permitir que os pais beneficiassem de alguma forma do mesmo. Surgiu então a ideia conjunta de implementar a vertente SER Pai, através de sessões dinamizadas por aquela mãe/psicóloga, abordando diversos temas do interesse dos pais e que, num espírito de partilha, pudessem auxiliar os mesmos na tarefa de educar. A iniciativa foi bem acolhida pelos encarregados de educação da turma e os mesmos seleccionaram, de uma lista pré-definida, os temas de maior interesse para si enquanto educadores. A partir daí decorrerá toda esta vertente do projecto, de acordo com as necessidades do grupo.

Não é nosso intuito mudar hábitos ou mentalidades repentinamente, mas dar a conhecer aos diversos intervenientes do contexto educativo que há alternativas saudáveis que comprovadamente nos podem ajudar a todos a lidar com as tensões do nosso dia-dia. Pais, professores e alunos podem beneficiar destas práticas se possuirem um genuíno interesse em mudar alguma coisa. Este projecto não tem a intenção de ser um “livro de receitas”, mas apenas uma forma de intervenção que pode e deve ser moldada consoante as necessidades do público, nomeadamente das crianças.

Esta entrada foi publicada em Uncategorized. ligação permanente.

Uma resposta a O porquê deste projeto

  1. Natália Oliveira diz:

    Se houver mais professores a adoptarem práticas relacionadas com a meditação, teremos crianças mais serenas e mais capazes de realizar as diferentes aprendizagens dentro da sala de aula.

Deixe um comentário