SER Criança

A maior parte dos dias vivemos em piloto automático, desempenhando as nossas tarefas diárias sem prestarmos atenção ao que realmente estamos a fazer: comemos sem saborear, olhamos sem ver e falamos sem saber o que estamos a dizer. O ser humano tem a capacidade de pensar no passado, presente e futuro. Passamos muito tempo a pensar no passado e no futuro e não passamos tempo suficiente a pensar no presente. Há muitas coisas a passarem-se neste momento à nossa volta, sensações no corpo, pensamentos e emoções de que não estamos conscientes.

As crianças também podem passar a maior parte do seu dia em piloto automático mas podem centrar-se mais no presente que os adultos. Exemplo disso pode ser um jogo ou outra actividade agradável com os amigos. Elas sentem as suas emoções imediatamente, reagem a uma situação mesmo se tiverem dificuldades em identificar ou verbalizar essas sensações. No entanto, as crianças vivem num mundo onde lhes é dito tudo o que têm de fazer e essa falta de iniciativa pode levar a que desempenhem as suas tarefas diárias sem consciência do que estão a fazer. Um exemplo flagrante é quando se pergunta a uma criança o que jantou no dia anterior. Provavelmente não se lembrará, não significando isto apenas fraca memória mas também que não estava a prestar atenção ao momento, tendo comido o que lhe puseram à frente e pensando já noutra actividade.

A atenção consciente consiste em focar a atenção em experiências internas e externas, no momento presente, sem juízos de valor. O treino da atenção consciente potencia a atenção e a concentração da criança, melhora a memória, a auto-aceitação, competências de auto-regulamento e auto-compreensão. Os exercícios para as crianças serem mais conscientes são progressivos, começando com atenção em factores externos, depois atenção centrada em si como parte de um determinado ambiente, consciência do corpo e finalmente exercícios conscientes de meditação que têm como finalidade os processos cognitivos.

Os alunos, em geral, apresentam atitudes como inquietação, desatenção, irritabilidade, agressividade, dores nas costas, na cabeça, ansiedade nas aulas e quando têm que realizar testes de avaliação. A má postura pode provocar tensões musculares desnecessárias, trazendo dores nas costas e na cabeça. Quantas vezes não ouvimos os alunos a queixarem-se de que sabiam a matéria mas que com o nervosismo se esqueceram de tudo? A respiração deficiente também pode provocar dores na cabeça, ao redor dos olhos, apatia e desatenção, consequência de uma oxigenação cerebral inadequada. Esta dificuldade somada à ansiedade mental de não conseguir ter bons resultados nos testes gera a sensação conhecida de “dar uma branca”, em que os alunos esquecem a matéria aprendida. Muitas vezes eles sabem a matéria, mas não se lembram por causa da ansiedade causada pelo excesso de adrenalina que circula no organismo.

Os alunos, em geral, sentam-se em carteiras durante longos períodos de tempo, em posições que impedem a respiração fácil e adequada. A respiração superficial é suficiente para manter a vida, mas não o é para manter o corpo relaxado e a mente alerta! A respiração livre e consciente pode melhorar o bem-estar, a atenção e o raciocínio do aluno. O relaxamento, a concentração e a meditação podem auxiliar na administração da agressividade e ansiedade, podem acalmar a agitação do aluno, promovendo mais tranquilidade e serenidade, auto-conhecimento, consciência das suas relações e inter-relações com o meio, melhorando o aproveitamento do aluno. Exercícios breves, com apenas alguns minutos, podem proporcionar uma nova disposição e energia. Também podem ajudar a melhorar a atenção na sala de aula, equipando os alunos para uma boa aprendizagem.

Com a utilização diária de algumas técnicas é possível que as crianças relaxem para aprender melhor, fixem a atenção e aumentem a concentração, desenvolvam a capacidade de ouvir bem, estimulem a criatividade, criem uma forte imagem de si próprios e melhorem as habilidades escolares, cultivem a paz interior e a harmonia de grupo. Ao desenvolver habilidades como auto-estima, auto-compreensão, auto-conhecimento, observação crítica de si próprio e dos outros, motivação, determinação, ética, integridade, empatia e altruísmo construímos um ser humano mais integral, emocionalmente harmonioso, sereno e saudável, valores tão importantes no mundo actual onde a correria aumenta em direcção a conhecimentos e tarefas a serem cumpridas.

Deixe um comentário